terça-feira, 8 de julho de 2008

Este mundo enlouqueceu!!!

Se cá a “je” já estava convencida que este mundo enlouqueceu… ontem fiquei com a certeza absoluta.

Acompanhei a minha boss (que é solicitadora de execução) numa diligência (penhora de bens móveis) e chegadas à casa do executado (um senhor de aí uns 60 e picos, setenta anos), este muito amavelmente convidou-nos a entrar na sua propriedade e sentarmo-nos numa mesa de granito, ao sol, ao lado de uma árvore. Em cima da mesa, 4/5 seixos, grandes (já vão perceber o porquê da descrição à Eça de Queirós).

Começa a minha boss a explicar ao que ia…
- A boss: Sou a C., sou solicitadora de execução e venho aqui a mando do Tribunal para fazer uma penhora de bens móveis e duas citações.
- O executado: Mas penhora porquê??? (nunca sabem que têm dívidas… pois…)
- A boss: Uma dívida ao banco XPTO.
- O executado: Mas dívida de quê???
- A boss: De uma livrança passada à empresa de crédito OTPX (que tinha sido entretanto incorporada no banco XPTO).
- O executado: Mas eu não devo nada a esses gatunos. Nem sei quem são eles!!! (não sabia quem eram mas não lhes devia nada… certo…)
- A boss: O OTPX faz parte do banco XPTO e por isso a dívida é a ele.
- O executado: Gatunos, malandros, filhos da p**a! Eu vou à agência deles e desfaço-os. Mato-os todos! Sou construtor e ponho lá uma bomba que os f**o!! Minha senhora (a falar para a boss) com todo o respeito!

Aqui a “je”, que já estava a ficar farta da conversa da treta (e de tanto respeito), levantei-me e fui-me colocar debaixo da árvore, à sombra. Sai-se o executado: “Menina, não tenha medo que eu não faço mal.” Ao que eu retorqui: “Que medo? Levantei-me porque não posso estar com a cabeça ao sol muito tempo.”

Vai daí, a boss diz-lhe que tinha de citar a esposa dele, também executada.

Bem… foi o diabo!!! Melhor… foi muito mau e acabou pior.

Short version… o energúmeno do executado desatou a insultar-nos de “suas filhas da p**a, suas p**as, suas vacas… ponham-se daqui p’ra fora. Aqui não citam ninguém!!! Pego nesta pedra (um dos seixos) que to mando à cabeça e mato-te, sua p**a!”

Ora, tinha chegado a hora de nos pormos a andar (até porque ainda tínhamos muito que fazer nessa tarde) e dissemos: “Pronto, chefe. Não quer, não quer. Vamo-nos embora e depois isto resolve-se de outra maneira.”

Já nos estávamos a virar e a dirigir ao portão quando o energúmeno atira-se à minha boss e puxa-lhe o cabelo (sempre a insultar-nos de p**a e afins). Ela vira-se e ela rouba-lhe os papéis da citação da mão. A minha boss consegue recuperá-los depois de levar um estalo do energúmeno. Sim um estalo! Eu meto-me e ele agarra-me um braço e eu: “Chefe. Veja o que vai fazer. Acalme-se ou vou chamar a GNR!” Ele larga-me, vira-se, e depois de esgadanhar a boss rouba-lhe o processo e torce-o todo e a dizer que o ia rasgar (como se não houvesse o original no Tribunal… estúpido!)

Eu disse à boss: “C., deixa-o ficar com o processo. Depois resolve-se. Dá-se conhecimento ao Juiz e depois ele decide em conformidade. Vamos embora.”

Dirigimo-nos finalmente à saída e vem o energúmeno a correr, encosta-se ao portão e diz à boss que tinha o telelé na mão: “Tu não vais ligar a ninguém, sua p**a! Senão dou-te com este ferro que te f**o! Mato-te! E daqui ninguém sai, suas p**as!”

Eu já a passar-me dos carretos e a pensar que tinha de dar no focinho ao velho e esquecer a minha boa educação que me obriga a respeitar os mais velhos: “Mas então como é... Primeiro quer-nos daqui para fora e agora não nos quer deixar sair??? Olhe que eu chamo mesmo a GNR!!!” Ao que me responde ele: “Que venham que eu mato-os a todos!”… Cheio de força e coragem, o velho…

Quando eu já me preparava para atirar com a pasta que tinha mão ao chão, dominar o velho para lhe tirar o ferro e pô-lo quieto para a boss poder chamar a GNR, vem uma menina aí duns 10/11 anitos (neta do energúmeno), a chorar, a dizer ao avô: “Avô! Isto não é maneira de resolver os problemas. As coisas não se resolvem à pancada!”

Abençoados pais que assim a educaram. O velho parou e disse que pela neta nos deixava sair… como se nós fossemos lá ficar se não fosse ela! Se não era a bem era a mal!

Estava eu a passar o portão, sai-se o velho: “Desculpe, menina, com todo o respeito.” Passei-me! Olha-me só a lata do velho! Só lhe respondi: “Saia-me da frente que eu já nem o vejo! Saia!!” E saímos as duas.

Nova saraivada de insultos enquanto nos dirigíamos ao carro: “Suas p**as, suas vacas! E tu (para a minha boss que vinha atrás de mim) tens um cu de brolho!” Responde-lhe ela: “Tenho mas é meu e não devo nada a ninguém!!” (Amei!) E falando em “cus”… o energúmeno ficou com “cara de cu” a olhar do portão… hehehe…

Resultado: a boss com várias escoriações, papéis rasgados e sem processo. O resto da tarde perdida em declarações no posto da GNR e na advogada para tratar da queixa-crime e do pedido de indemnização.

E mais uma razão porque digo que este mundo enlouqueceu… depois da consulta/conversa com a advogada, que é uma amiga comum, conta-nos ela: “Hoje estava numa inquirição no Tribunal e segundo me contou uma das minhas testemunhas, ao que parece uma testemunha da parte contrária estava a fazer p*******os (aquele gesto feio, em que fica o dedo do meio em pé entre o anelar e o indicador, e a abanar a mão…) em direcção à Dra. Juíza que estava a dirigir a inquirição! Isto tá tudo doido!!!”

Lindo, não é? Para acabar a tarde em beleza, não podia ser melhor (ou pior, digo eu cus nervus!).

É como diz o meu amigo… Há coisas fantásticas, não há?”

P.S.: Traduzindo “cu de brolho”… É uma expressão usada aqui no Norte que quer dizer “cu grande, pesado”. O meu saudoso papi dizia-me a rir: “Anda, cu de brolho!”… quando queria que eu andasse mais depressa. Papizices… :)

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